“Piggy” ou “Porquinha” (título em português) é um filme que rendeu inúmeros burburinhos e comentários por parte dos fãs do terror e suspense. E devo confessar a vocês que minha curiosidade e vontade em ver a obra eram imensos. Assim fiz. Minha surpresa foi total e confesso também que o título não me impressionou tanto enquanto suspense, mas sim como drama e, especialmente, como crítica social.
Este longa de Carlota Pereda é baseado em um curta homônimo e dirigido por ela mesma. A partir da premissa ali desenvolvida, a cineasta transforma a história em uma narrativa trágica, selvagem, absolutamente brutal e inusitada. E não se trata de um filme com um apontamento inédito. Ainda que usando um exemplo distinto, obras como “Carrie, a Estranha” já trabalharam temáticas relacionadas ao bullying e tiveram êxito.
A história é a seguinte: Sara, uma jovem com excesso de peso sofre bullying com os adolescentes da sua região. Após uma provocação ocorrida junto a um banho de piscina, ela retorna caminhando para sua casa, mas presencia um sequestro que promete terminar em morte e se cala diante disso. A partir daí, a vida dela nunca mais será a mesma.
A narrativa é funcional, mas não apresenta um suspense de tirar o fôlego do espectador. Conforme a obra avança, conseguimos perceber melhor a vida de Sara. Ela tem problemas com o corpo, está descobrindo a sexualidade, tem uma mãe repressora e com dificuldades em perceber o que acontece com a filha e, por fim, está rodeada de jovens cruéis e sem qualquer tipo de limite. E para complicar, ela ainda acompanha um pouco os passos de um psicopata que aparece em sua cidade.
E tudo vai girar em torno desse universo de problemas e caos. O espectador vai pacientemente acompanhando o desvendar da obra. E a gente se questiona: Sara irá se calar até o fim do filme? Será ela cúmplice das loucuras do psicopata? É uma oportunidade dela se vingar de todo o constrangimento que a fizeram passar? O psicopata será também uma vítima da sociedade e por isso assim age? Pois é, mais do que o suspense em si, o que nos faz ficar ligado à trama são as questões sociais que nela estão envolvidas.
O que podemos aqui claramente afirmar é que a dramaticidade da obra é marcante e intensa. E o ponto mais alto que o filme nos dá é a atuação de Laura Galán, a protagonista. De menina tonta e ingênua, ela vai trilhando uma caminhada crescente e vai se tornando insana e até mesmo brutal. É genial. Além dela, os outros atores são bem convincentes também, e o segundo maior destaque neste quesito é o trabalho de Carmen Machi, a mãe de Sara.
Há vários momentos sanguinolentos e agressivos e nos deparamos com um final surpreendente. Certamente deve agradar grande parte dos espectadores. Se você é fã de suspense, assista sem medo, mas fique atento, em especial, às entrelinhas e críticas que a obra traz. São elas que fazem a narrativa de Pereda ser uma obra diferenciada e admirável. Confiram!
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